CHROLLO LUCILFER

Nascer em um lugar em que seu destino é condenado ao fracasso desde o princípio nunca seria um fardo o qual Chrollo pretendia se agarrar.Ainda que fosse o único lugar que pudesse chamar de lar, a cidade Meteoro não poderia ser definida como nada menos do que lixo, e nada mais do que isso. Era uma cidade tão esquecida como os próprios habitantes dela, não havia registro, formalidade ou Leis que os tornassem algo ao menos digno de sua mísera existência.O ambiente era inseguro, cercado pela ideia imunda do caos e da impunidade. Chrollo parecia inerente a isso, não permitindo que tal fato o impedisse de buscar momentos de felicidade. O jovem garoto tinha paixões as quais se agarrava fortemente. Ele devorava livros velhos, sujos e rasgados como se isso o satisfizesse muito mais do que a própria comida escassa, encontrando naquelas palavras algo que lhe permitisse um breve refúgio daquela realidade podre. Além disso, Chrollo era um ator. Apaixonado pela arte e por tudo o que a envolvia, ele possuía uma extensa coleção de fitas cassete que encontrava durante as brincadeiras com os amigos pelo lixo da cidade. Ele criava peças, atuava os mais diversos papéis e isso instigava a curiosidade de todas as crianças, que se uniam a ele durante os espetáculos.Não é difícil entender que a personalidade dele se destavaca entre os demais, ele era um líder nato. Era curioso, interessado em absorver de tudo um pouco, qualquer conhecimento que o instigasse a aprender. Ele não tinha família, mas nunca se considerou totalmente sozinho, tinha seus amigos como sua principal companhia. Mesmo assim, era um garoto sem grandes ambições, sobrevivendo por uma vida simples baseada no mínimo.E ele poderia ter vivido assim, se a dor não tivesse tomado conta de seu coração.O estopim para o início de sua corrupção veio após a morte de Sarasa, uma de suas amigas mais próximas. Era difícil para uma mente tão nova entender como há pouco tempo seu grupo de amigos estava completo e unido, mas agora... Todos passavam pela dor do luto. Quando ele pensou sobre isso, relembrou como não a viu no dia anterior e não apareceu na manhã seguinte, como ele não percebeu? Mesmo se culpando, ele sequer acredita que conseguiria ter feito algo para impedir. Ele lembrou como todas as crianças se juntaram para ir atrás dela, e quando finalmente entraram na Floresta Uga, eles apenas encontraram um pequeno saco. Chrollo não deixou as outras crianças se aproximarem, sendo o primeiro a abrir e ver o corpo mutilado e descartado, como se fosse apenas mais um objeto sem valor. Nesse momento, algo dentro dele se quebrou. Mesmo sendo tão jovem, ele entendia o fato de que Sarasa não foi a primeira, assim como não seria a última.Não era novidade para ele que todos ali eram vistos como o próprio lixo que os cercava. Era fácil sumir com alguém que teoricamente não existia, que não possuía importância ou não era tão relevante em comparação com o resto do mundo. O comércio de órgãos e o tráfico humano eram particularmente populares ali, e ver isso tão de perto o deixou desnorteado.Nesse dia, Chrollo percebeu que a realidade fora de seus livros e peças teatrais era nua e crua, nem mesmo um pouco piedosa.Já no funeral, todos estiveram presentes para ver Sarasa e se despedir dela propriamente. Chrollo observava tudo um pouco de longe enquanto sentia a dor da partida, seus amigos percebiam nitidamente a face inexpressiva e descrente, mas seria impossível para eles saber o que o jovem pensava, então apenas lhe deram um tempo.Nesse mesmo dia, Chrollo tomou a maior decisão da sua vida. Ele nunca havia pensado que esse caminho seria o ideal para si, mas percebeu que deveria se tornar um mal necessário em vingança, não apenas por Sarasa, mas por todos os habitantes da cidade Meteoro que um dia foram desprezados. Seguindo o caminho do crime, ele criou um site para criminosos e fundou a Trupe Fantasma junto a seus amigos mais fiéis.Para o garoto, seu destino estava traçado desde o momento de seu nascimento. Não importava os meios aos quais ele agiria, o final seria apenas um, e ele estava pronto para enfrentar qualquer consequência de suas ações.

O LADRÃO

O ESPOSO

O primeiro encontro entre eles foi intenso, para dizer o mínimo. Chrollo e Samael se conheceram ao acaso por amigos em comum, mas é certo dizer que os dois se encantaram um pelo outro no mesmo instante, cada um de sua maneira.A personalidade quieta e reservada de Chrollo o impediu de tomar qualquer atitude desde o princípio, tentando ignorar qualquer sentimento e guardando tudo para si, mesmo que o outro flertasse consigo e, no fundo, quisesse retribuir. Mesmo percebendo a dificuldade dele em se expressar e vê-lo se afastar, Samael não se sentiu desencorajado. Fato esse que, aos poucos, amoleceu o ladrão.Ainda que houvesse uma atmosfera romântica entre eles, se tornaram mais íntimos após formarem uma amizade. Samael chegou a realmente pensar que Chrollo não queria nada consigo, mas, mesmo que com pequenos atos, eles formaram uma união estável e delicada, confortável para ambos. Quando menos perceberam, passaram a se tratar por apelidos carinhosos, a se tocarem com mais delicadeza e cuidado, a passar mais tempo juntos... Até que deram seu primeiro beijo. Dali em diante, não se separaram mais.Chrollo notou que seria inegável reconhecer os sentimentos que inundavam do próprio coração. Havia entendido isso antes mesmo de tomar a atitude de beijá-lo, mas apenas o conforto que sentia ao lado dele o fez com que ele se permitisse ser vulnerável, cedendo a tudo o que ansiava tão urgentemente. Cada dia juntos os fizeram se apaixonar por tudo aquilo que envolvia o outro.Em Samael, ele encontrou algo que nunca pensou merecer: um amor verdadeiro, puro e cuidadoso, que envolveu seu coração de forma sincera e protetora. Percebeu que seria abraçado com todas as suas dores e defeitos, soube que ele seria seu companheiro por toda a eternidade. Assim como Samael encontrou nele tudo aquilo que pensou não existir, ele se sentia abraçado da mesma maneira. Com esse amor, eles aprenderam que nada precisaria ser doloroso, que o amor não se resumia a isso; mas sim que é calmo, doce, suave. Eles enxergam no outro um amor o qual consideram ideal, um encaixe perfeito que pôde formar um relacionamento aconchegante, saudável e respeitoso.Como desde o princípio, nada foi planejado, mas seus corações se entrelaçaram de tal modo, que palavras quase nunca serão necessárias para compreender a necessidade do outro. Eles se amam, se protegem e se zelam com toda a devoção. É o amor mais sincero, puro e especial que Chrollo já sentiu em toda a sua existência, e não se importa em deixar claro que faria qualquer atrocidade visando o bem de seu esposo.

O SÓCIO

Quando Samael se sentou a frente de Chrollo e conversou com ele naquele dia, o ladrão sequer imaginava tudo o que ocorreria dali para frente. A relação entre eles sempre foi de muito companheirismo e transparência, e assim, seu esposo citou o nome de Lucien, um amigo o qual Chrollo já conhecia e havia conversado algumas vezes, destacando a aproximação romântica entre eles.A reação imediata foi de alegria, se sentia feliz e animado por Samael, principalmente por já possuir uma boa impressão do homem; além de que, entendia a importância em tê-lo sendo apresentado para si dessa forma. A conversa seguiu normalmente com risadas e sorrisos, a clara felicidade de seu esposo o contagiava de forma incondicional. Como sempre fez, o acolheu fortemente, demonstrando sua satisfação com a notícia.Samael e Lucien começaram a namorar pouco tempo depois disso. Aos olhos de Chrollo, Lucien sempre lhe pareceu uma pessoa divertida e encantadora, então, o primeiro contato entre eles após isso foi agradável, e não nega que achou particularmente engraçado. Provavelmente, nenhum deles sabia realmente o que esperar, mas a conversa fluiu de forma natural. Interagiram como amigos de muito tempo, riram e se asseguraram sobre o quão confortável era tudo entre eles.A vontade mútua de iniciar uma amizade foi primordial para que tudo desse certo e eles se aproximassem de modo tão sincero. Com o passar do tempo, perceberam assuntos em comum, se identificando um com o outro. E, o que se iniciou como apenas um simples vínculo, se transformou em uma parceria profunda. No fim, um dos maiores presentes dessa relação foi poder se aproximar mais de Lucien.Desde essa primeira conversa, não se separaram mais. Os sócios, como gostam de se chamar, não são apenas melhores amigos, mas possuem uma ligação muito mais forte, cercada por muito carinho e consideração. Chrollo não possui muitas pessoas as quais se importa tanto, e Lucien não foge de sua lista de protegidos. A confiança que tem pelo homem é realmente inabalável, assim como a que possui pelo marido deles. Portanto, é comum os ver grudados e se protegendo a todo custo.Lucien conquistou um espaço especial não apenas na vida e no coração de Samael, mas também na de Chrollo, sendo importante para que sua família esteja completa.

A FILHA

Eles se conheceram quando a menina ainda era jovem, há muito tempo atrás. Assim como ele, ela também não possuía uma família ou alguém que pudesse estar ao seu lado. Observar aquele par de olhos grandes e brilhantes, que o contemplavam com tanta curiosidade, o fez relembrar de um tempo longínquo, que não tinha pretensão de voltar a pensar. Ainda sim, o fez sentir uma intimidade a qual sequer ainda existia.Para ele, a emoção de se ver em outra pessoa não parecia ser uma sensação natural. Chrollo entendia a complexidade da garota e as dificuldades as quais ela possuía, além de suas virtudes. E, por incrível que parecesse, ele percebeu que ela também o compreendia. Ela o cativou de uma forma totalmente nova, o fazendo ter a necessidade de cuidar de alguém como se fosse seu, um apego totalmente paternal.Aquele sentimento inusitado nunca havia sequer ousado surgir, mas não conseguiu o sufocar quando constatou que possuía o dever de proteger e colocá-la atrás de si. Juntos, eles criaram uma relação de afeto carinhosa. A ligação entre eles e o zelo que se apossou dele o fez se responsabilizar por ela como se fosse sua.Chrollo a adotou após um tempo, a nomeando como Marieri e lhe dando seu sobrenome, o qual ela aceitou e também considerou como seu. A tendo perto de si, seu lado mais cuidadoso se fez presente. Entendendo o perigo da vida a qual levava, apenas se tornou responsável pelo treinamento da jovem.Para ele, Marieri é sua princesa e uma jóia preciosa. Não poupando esforços, faz e dá tudo o que a garota quer e o pede, quase sem destacar ou impor limites.

A FILHOTE

Quando ainda era pequena, Chrollo a encontrou encolhida entre escombros de uma casa abandonada. Observar os braços arranhados do homem e uma marca de mordida em sua mão evidenciavam a dificuldade em conseguir segurá-la. Mas, ao finalmente poder apreciar algo tão inofensivo se aconchegar em seus braços, como se pertencesse ali desde o nascimento, pensou ter valido a pena. Chrollo nunca se imaginou piedoso ou misericordioso, muito menos havia espaço para um filhote em sua trupe, mas ele não pôde, e nem quis, se recusar a cuidar dela.Caminhando para fora, agora sentia alívio pelo fim dos latidos e do choro fino que ela soltava há pouco tempo atrás. Um riso frouxo saiu quando notou que apenas um leve carinho na orelha bastava para que ela permanecesse em silêncio, ele apenas não sabia definir se isso se devia ao receio de ter sido pega ou ao cansaço que finalmente dominou as poucas forças restantes.Permitindo expressar um sorriso suave em volta da curiosidade dos membros de sua trupe, ele a nomeou como Bella.A confiança nunca é algo facilmente conquistado, e ele não acreditava que deveria ser, mas criar Bella não foi fácil. Quando a levou para o esconderijo, ela se escondeu e não aceitou qualquer aproximação por um bom tempo, sua presença e permanência foi vista com certo ceticismo por parte de alguns membros.Com uma paciência que não tinha, Chrollo se esforçou para criar laços com a pequena. Algumas horas de seu dia eram dedicadas a dar comida, tentar dar petiscos e se aproximar, o que surgiu efeito aos poucos, até que ela se sentisse confortável com a presença do homem, que claramente não a machucaria. Quando eles finalmente se aproximaram, Bella revelou ter uma personalidade alegre e até mesmo manhosa. Para os membros, eles tinham um leve contraste, mas o carinho mútuo era claro.Chrollo percebeu que não poderia cria-la sem responsabilidade, mas que deveria ensiná-la a sobreviver, assim como fez com Marieri. Ele jamais a levaria em qualquer missão, mas passou a treiná-la para que estivesse preparada para qualquer ocasião adversa.